Cancelamento, o que é? Causas, consequências e exemplos de famosos cancelados

A cultura do cancelamento consiste no conflito de opiniões, boicotando e/ou posicionando-se contra a postura de alguém seja famoso ou não.

Os tribunais já não são mais apenas aqueles que a gente conhece no dia a dia, disponíveis através da justiça. Estamos lidando com um novo e irreversível tribunal: o do cancelamento. Nele, os juízes são pessoas comuns, e os promotores estão ardendo para punir ou defender com unhas e dentes uma situação, uma empresa ou alguém.

De fato, ninguém está livre do cancelamento. De Anitta à escritora inglesa, J.K. Rowling, o “Supremo Tribunal Virtual” escancara em praça pública um erro para que os juízes da web promulguem a sentença.

Cancelamento é um dos temas do momento. Ele foi o termo do ano em 2019, pelo Dicionário Macquarie. Além disso, recentemente o Google informou que pesquisas sobre o assunto cresceram mais de 1.000% na internet.

A cultura do cancelamento tem ganhado as redes sociais, desde meados de 2017, e seus efeitos têm sido multiplicados. Começou apenas com a rejeição, após um ato falho ou conflito de opiniões. Mas agora estamos lidando com ameaças de morte e casos de polícia.

O que é cancelar alguém?

Cancelamento, o que é? Consequências e exemplos de famosos cancelados
Renova Mídia

Em suma, cancelar significa boicotar e/ou posicionar-se contra a postura de algo ou alguém.

Os cancelamentos tem os mais variados motivos, mas o principal deles é o conflito de opiniões ou alguma conduta reprovável, muitos envolvem até crimes. Eles podem ser passageiros, temporários, definitivos ou não. Em outras palavras, tudo depende do grau de exposição e erro cometido.

Neste viés, um abusador sexual dificilmente consegue recuperar sua reputação. Por outro lado, alguém que fez um comentário homofóbico pode ter apenas um “arranhão” em sua imagem e logo conseguirá consertar.

Geralmente, as reações mais comuns são comentários negativos no perfil de quem está sendo cancelado, unfollows, discutir o assunto no próprio perfil na internet, entre outros meios. Nesse sentido, em casos mais extremistas, mensagens de cunho ameaçador, ofensas fortes e até mesmo confusões na rua podem acontecer.

O cancelamento pode vir de você para você mesmo. Como por exemplo, um tweet em 2010 pode não refletir sua opinião hoje, mas ele pode refletir na sua reputação caso seja visto por alguém como uma oportunidade de te rotular por algo escrito há 10 anos ou mais.

homem sendo cancelado
Wiabiliza

Artistas, influenciadores, atletas, personalidades públicas ou não: todo mundo está sujeito a sercancelado. Um bom exemplo foi a Gabriela Pugliesi que, em meio ao início da pandemia do coronavírus no Brasil, deu uma festa em sua casa com outras influenciadoras.

A blogueira fitness já havia se contaminado, no entanto já estava recuperada. Mesmo assim foi alvo de diversas críticas, perdeu patrocínios e precisou desativar suas redes sociais. Antes do cancelamento, Pugliesi era uma das principais influenciadoras do país sobre o mundo fitness, saúde e musculação.

O retorno dos cancelados

anitta cancelada
Reprodução/Instagram

O processo de retorno dessas pessoas para a mídia ou a sociedade em si pode ser mais doloroso do que o o ato falho cometido por elas. Se for alguém famoso, exige além de sessões de terapia e prevenção aos danos psicológicos, uma reconstrução de imagem perante os holofotes.

Anitta, por exemplo, não perdeu a chance de se recolocar como fornecedora de conteúdo nato após se envolver em uma confusão com colunista de fofoca e áudios vazados falando mal de outras cantoras brasileiras.

A artista logo abafou o caso ganhando uma ação contra o colunista e fornecendo conteúdos em suas redes sociais de cunho ambientalista, além de lives sobre política.

Já com Gustavito o processo foi um pouco mais difícil. Em 2017, o cantor mineiro viu sua carreira definhar após sérias acusações de estupro contra uma mulher. Essas acusações foram feitas à maneira de exposed, mas o caso foi arquivado e o artista moveu um processo de volta por calúnia. Por conta disso, em 2019 a mulher pediu desculpas e o processo também foi arquivado por um acordo em ambas as partes, mas as consequências emocionais ficaram.

Como começou a cultura do cancelamento?

movimento metoo
MARK RALSTON / AFP | QUALITY

O termo surgiu em 2017, mas o ato de cancelar pessoas existe há muito mais tempo. Lembra quando Lady Gaga apareceu com um vestido de carne? Isso foi em 2010, no MTV Video Music Awards.

A cantora foi duramente criticada tanto pela comunidade de veganos, quanto por pessoas que consideravam aquilo uma ofensa às pessoas que sofrem de fome.

No entanto, o termo foi popularizado através de movimentos de denúncia, como o “#MeToo“, ‘eu também’, em tradução livre, que abalou Hollywood.

Após o The New York Times e a revista The New Yorker publicarem um grande dossiê contra o célebre produtor Harvey Weinstein, milhares de mulheres começaram a realizar exposeds (um tipo de post viral com muitas informações e detalhes de alguma acusação) expondo casos e nomes de agressores sexuais, utilizando a hashtag. Vale lembrar que o movimento existe desde 2006, mas ganhou força após as acusações de Weinstein.

Após isso, foi-se concretizando o termo da cultura do cancelamento na internet. O movimento ganhou diversos países, inclusive o Brasil, mas com outras hashtags — e também outros tipos de denúncias. Desde uma apropriação cultural a um crime cabível de consequências penais, o cancelamento existe para qualquer desaprovação de conduta com o intuito de difamar a reputação de algo ou alguém.

movimento metoo
Il Messaggero

A cultura do cancelamento é um mal ou um bem da internet?

O racismo, machismo, apropriação cultural, homofobia, xenofobia, preconceito e discriminação, seja ela qual for: nada disso é tolerado mais. O cancelamento tem sido uma forte arma para combater estes males, mas não necessariamente ele é o mais eficaz.

Atualmente, cancelar alguém é um dos meios utilizados por classes minoritárias para expor pessoas privilegiadas e suas ignorâncias. No entanto, o seu uso equivocado tem deslegitimado muitas denúncias e exposeds.

Dessa forma, podemos associar o movimento atual à história da expressão “caça às bruxas”. Em Salém, na colônia de Massachusetts, cerca de dezenove pessoas foram mortas em praça pública, mulheres na maioria que foram chamadas de bruxas. Isso em meados de 1690. O motivo? Fofocas.

caça às bruxas - cultura do cancelamento
Caça às Bruxas – Estudo Prático

Por conta disso, muitas pessoas sentem mais medo de serem canceladas do que de fato cometerem algum ato falho. O medo de algum boato ou de qualquer errinho ser exposto é muito maior do que realmente errar.

É aí que entra mais uma vez um novo padrão na sociedade: o da perfeição. Quem nunca errou que atire a primeira pedra. Na verdade, não. Quem nunca errou que torça para que seu erro não seja exposto em praça pública com detalhes, dia e hora, prints, áudios, fotos e tudo o que puder te incriminar de algum erro.

A facilidade do acesso a internet tem atingido todas as camadas de público possíveis. Dos mais tradicionais e conservadores aos mais jovens, as redes sociais se transformaram em palco para a massagem do ego em competir quem é o mais certo.

ego
Jornal da Cidade

A régua moral não perdoou nem eventos de outras épocas

Ademais, os juízes da internet já evoluíram para outro patamar. Figuras históricas estão sendo revividas para discussões e cancelamentos dos mesmos. Uma dessas foi a princesa Isabel, que levou todo o protagonismo da libertação dos escravos para si.

Outro exemplo foi o clássico filme de 1939, “E O Vento Levou”, que teve seu legado comprometido ao ser acusado de racismo. A régua-canceladora não perdoou nem a figuras ou personagens de outras épocas, muitas das vezes desconsiderando os contextos históricos nos quais eles estão inseridos.

racista e o vento levou cancelado
E o Vento Levou/Reprodução

No entanto, de fato, o cancelamento na internet ajuda a levantar debates e encontrar palavras, atitudes e situações que antes eram comuns, mas que na verdade escondem algum cunho preconceituoso ou de desvio de caráter.

Dessa forma, o processo do cancelamento ajuda a levantar a voz de alguém que sem ele, talvez não conseguiria uma solução para um problema com algo ou alguém. Entretanto, esse massacre virtual não tem regras e nem uma régua moral eficiente. Em outras palavras não tem ideologia, lado, classe ou gênero. Assim sendo, ele é feito por todos e atacado por todos, e todo mundo pode ser atingido, porém o problema nem sempre é resolvido. É aí que pode, na verdade aparecer outro: o famoso processo.

Não é tão simples assim realizar uma acusação em praça pública, assim como mencionamos a história do “caça às bruxas”. Seja como for, o acusante pode virar réu e o cancelamento pode ter uma faca de ponta dupla.

Famosos cancelados na internet

1 – Anitta

anitta cancelada
Instagram/Reprodução

Apesar de ter passado por vários cancelamentos, Anitta ainda continua com uma carreira sólida. Nesse meio tempo, nenhum destes cancelamentos foi algo forte que mudasse toda a imagem que ela já construiu.

Atualmente, o cancelamento mais recente foi uma treta com a cantora Ludmilla e áudios expostos pelo colunista Leo Dias, onde a cantora falava mal de suas colegas de profissão. Ludmilla também expôs conversas com a cantora a chamando de mentirosa e cínica.

2 – Bianca Andrade

bianca boca rosa cancelada
Instagram/Reprodução

Conhecida como Boca Rosa, a influenciadora também já foi cancelada outras vezes. A mais recente foi dentro do Big Brother Brasil, onde ela ficou do lado dos homens da casa que haviam se envolvido em uma polêmica machista.

Bianca preferiu não tomar partido e ouvir os dois lados, o que a fez ser massacrada do lado de fora, perdendo inclusive 80 mil seguidores. No entanto, ela já revigorou seu império e segue com milhões de seguidores no Instagram.

3 – Marília Mendonça

marília mendonça cancelada
Youtube/Reprodução

Acredite ou não, a rainha do rebanho brasileiro já foi cancelada na internet. Durante uma live, a cantora fez uma brincadeirinha com seus colegas de profissão, insinuando que um amigo havia ficado com uma trans em uma balada, porém o acontecimento foi tratado com deboche.

Marília foi acusada de transfobia e chegou a pedir desculpas nas redes sociais dizendo que fará uma retratação em sua próxima live.

4 – Smart Fit

smart fit cancelada
Diário do Centro do Mundo

Da mesma forma que acontece com marcas e pessoas, empresas também são canceladas, como foi o caso da Smart Fit. O CEO da rede de academias, Edgar Gomes Corna, foi um dos empresários que teve o sigilo fiscal e bancário quebrado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O empresário é suspeito de ter financiado um esquema de distribuição de fake news durante as eleições de 2018.

O feito fez com que as academias da rede lotassem de pessoas querendo cancelar a matrícula como forma de boicote.

5 – J.K. Rowling

jk rowling cancelada
UOL

A criadora de todo o universo de fantasia de Harry Potter decepcionou os fãs ao defender Maya Forstater, que perdeu seu emprego após se posicionar contra uma legislação que permitiria que pessoas trans se identificassem com outros gêneros.

A escritora foi acusada de transfobia e chegou a ser criticada por atores dos filmes da saga. Ruoert Grint e Daniel Radcliffe prestaram apoio à comunidade trans.

6 – Gabriela Pugliesi

gabriela pugliesi cancelada
Instagram/Reprodução

A influenciadora fitness que cultua a boa forma foi duramente criticada por furar o início da quarentena com as amigas em uma social em casa. Pugliese já havia pegado o coronavírus mas estava curada. Entretanto, os brasileiros não perdoaram o deslize. Por conta disso, ela chegou a desativar as redes sociais e retornou em setembro de 2020.

7 – Ludmilla

ludmilla cancelada
Instagram/Reprodução

Bem como diversos famosos, a cantora de funk Ludmilla foi cancelada após as eleições para presidente do Brasil em 2018. Neste intérim, o perfil do Instagram da cantora supostamente teria curtido uma publicação de Jair Bolsonaro. Logo, sua base-fã que é toda LGBTIQ+ não gostou nada da atitude da artista. Segundo Ludmilla, o like foi “sem querer”.

8 – Sérgio Moro

sergio moro cancelado
Foto: Fabio Pozzebom/Agência Brasil / BBC News Brasil

Igualmente às celebridades, o cancelamento também acontece na ala política brasileira. Todavia, dentre os inúmeros cancelados, destacamos Sérgio Moro, que conseguiu atrair o ódio do Supremo Tribunal Virtual de todos os lados para si ao denunciar o presidente Bolsonaro por tentar interferir politicamente na Polícia Federal e em inquéritos relacionados a familiares.

Contudo, essa foi a receita perfeita para ganhar o cancelamento daqueles que eram fãs do juiz durante a Lava Jato e acreditavam numa fiel parceria com o presidente. Como resultado, além de não ter o apreço da esquerda brasileira, Moro perdeu uma grande quantidade de fãs do seu trabalho que são fiéis ao Bolsonaro.

9 – Arthur Aguiar

arthur aguiar cancelado
Instagram/Reprodução

Igualmente diversos homens, Arhtur ganhou exposed e foi canceladíssimo na internet após sua ex, Mayra Cardi, publicar um vídeo revelando que sofria abuso emocional e psicológico do artista, além das diversas traições.

10 – Carrefour

Carrefour cancelado
Cidade Marketing

A rede de supermercados foi cancelada em todo o Brasil por várias vezes e por casos de polícia. Em 2018 um cachorro envenenado e espancado por um funcionário. Agora em 2020 um promotor de vendas sofreu um infarto fulminante e morreu dentro do supermercado, foi coberto com guarda-sóis e cercado por caixas, para que a loja seguisse em funcionamento. O caso provocou diversas retaliações na internet.

Gostou deste conteúdo? Que tal ler: Marília Mendonça, quem é? Biografia, vida pessoal e principais sucessos.

Fontes: Canaltech, BBC, Veja Abril, Uol, Hoje Em Dia, Uol,

Imagens: Wiabiliza, Renova Mídia, Observatório da TV, El  País, Il Messaggero, Estudo Prático, Jornal da Cidade, Veja Abril, Uol, Popeek, Youtube, Diário do Centro do Mundo, Uol, Gooutside, TodaTeen, Terra, Roma News, Cidade Marketing,

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