A técnica de estampar roupas é tão antiga quanto o próprio hábito de vesti-las. Desde o Egito Antigo, os tecidos eram tingidos de forma manual, segundo a mestra em Moda, Cultura e Arte pelo Senac, Juliana Amaranta.
No entanto, a padronização da estamparia ocorreu por meio da Revolução Industrial, no século XIX. E sua popularização se deu nos anos 70, quando o print passou a ser incorporado com mais força nos guarda-roupas e as estampas surgiram mais coloridas, ousadas e mais baratas.
Todavia, como as estampas se tornaram mais acessíveis e, dessa forma, mais populares, passaram a ser consideradas também cafonas. Foram então os japoneses os grandes responsáveis por trazer a moda da estamparia de volta, lançando o mix de estampas. No início, uma escolha que pareceu perigosa, mas acabou funcionando e dando lugar à estética “mix and match”.
Técnicas de estamparia
O processo criativo que leva os tecidos ao resultado final na estamparia passa por três processos: a fiação, a tecelagem e o acabamento. No entanto, nem sempre as técnicas usadas nesses processos foram como conhecemos hoje.
As técnicas, que se iniciaram como artesanais, passaram por diversos métodos diferentes até chegar à forma mecanizada e digitalizada, mais utilizadas atualmente. Assim, vamos conhecer um pouco dessas técnicas de estamparia a seguir.
Estêncil
Essa é uma das técnicas manuais mais antigas. Encontrada em peças dos fenícios, era feita por meio de “moldes vazados”. Ou seja, lâminas eram recortadas e coladas ao tecido e as partes que seriam coloridas ficavam “vazadas”. Dessa forma, cada lâmina correspondia a uma cor e ficavam sobrepostas, formando assim uma estampa completa.
Batique
Esta técnica surgiu na ilha de Java, na Indonésia. Ela consiste na aplicação manual de uma cera em algumas partes do tecido, fazendo o contorno da estampa. Além disso, a aplicação da cera também pode ser feita com ferramentas adequadas, como carimbos, marcando o contorno por meio de pressão.
Assim, a aplicação das cores é feita repetidas vezes dentro desses contornos e, ao final, o tecido é lavado, dando vida à estampa.
Serigrafia
Na serigrafia, ou como conhecemos hoje, silk-screen, a impressão da estampa é feita com um processo semelhante ao estêncil. Portanto, algumas áreas do tecido são vedadas com um contorno e em outras é passado um rodo de tinta.
Dessa forma, as áreas vedadas delimitam a tinta aplicada. Assim, o processo é repetido cor à cor até que se forme a estampa desejada. No entanto, na década de 20, nos Estados Unidos, essa técnica foi mecanizada com máquinas que fazem esse processo com quadros e rodos.
Perrotine
Esta é uma das primeiras técnicas de estamparia mecanizada. Foi criada por um francês chamado Pierrot, em 1834. Esse processo de impressão ocorre por meio do uso de blocos, que imprimiam de modo simultâneo por todo o tecido.
Contudo, a técnica não se popularizou tanto na Inglaterra, pois no mesmo período foi desenvolvido um modelo parecido em solos ingleses. Basicamente, a nova técnica fazia a impressão utilizando cilindros, o que era mais eficiente.
Cilindros de Cobre
A partir da técnica conhecida como intaglio, que consiste na gravação da estampa por uma chapa de cobre em baixo-relevo, surgiu a impressão com cilindros de cobre. Essa técnica mecanizada, surgida no século XIX, era utilizada na impressão de seda e algodão.
Por volta de 1750, a técnica se tornou muito popular na produção do clássico da decoração “Toiles de Jouy”, desenvolvido por Cristopher Phillippe Oberkampf.
Cilindro Gravado
Esta técnica surgiu em 1783 e pode ser conhecida também como rotogravura. Patenteada pelo escocês Thomas Bell, esse processo de impressão consiste na transferência da tinta do alto relevo de um cilindro de cobre para o tecido.
Assim, a estampa é feita por pressão quando o tecido passa entre o cilindro com tinta e o tambor da máquina e foi a primeira a trabalhar de forma precisa e com variedade de cores.
Cilindros microperfurados
Este processo mecânico de impressão consiste em depositar a tinta no interior dos cilindros. Dessa forma, determinadas partes do cilindro, vedadas ou perfuradas por um processo fotomecânico, são responsáveis por fazer a impressão da estampa.
Estamparia Digital
Esta é a técnica de estamparia mais recente, surgiu no século XIX, mas se popularizou por volta de 1990. Seu princípio de impressão em tecidos é o mesmo que o feito por impressoras em papel.
Assim, a impressora recebe, por meio de um computador, os dados do desenho a ser estampado, e a tinta é depositada no tecido por cartuchos com tinta. Nesse processo, existe uma grande variedade de modelos de máquinas que podem melhorar e tornar as tonalidades mais precisas.
Existem também equipamentos de pré-impressão e pós-impressão, que trabalham o tecido para melhor receber a tintura e depois para melhorar sua fixação. Além disso, essa técnica é muito mais eficiente em termos de mercado, pois reproduz as estampas de forma mais acertada e exige menos insumos e mão de obra.
Estampas Clássicas
Algumas estampas criadas ao longo dos séculos se tornam tão populares que continuam sendo sempre usadas. Então, conheça agora algumas dessas estampas clássicas mais famosas.
Animal Print
Encontrada em desenhos egípcios de 6000 a.C, esta estampa já foi muito usada pela nobreza do século XVIII, mas se popularizou mesmo na década de 30. Acredita-se que pelo lançamento do filme Tarzan, onde os personagens usavam estampas de animais. No entanto, você não precisa necessariamente usar pele para estar na moda do animal print, atualmente já existem tecidos de alta qualidade que simulam as estampas de animais.
Pied-de-Poule
Este estilo de desenho surgiu em torno de 1880, na Escócia, estampando as roupas de lã usados pelos pastores. Mas algum tempo depois, passou a ser considerada artigo de luxo e por isso se popularizou entre as classes mais altas. Assim, já no século XX, foi incorporada pelo estilista francês Christian Dior a suas criações.
Vichy
Acredita-se que essa estampa tenha surgido na região de Vichy, na França, por isso recebe esse nome. Basicamente, ela consiste em três cores, tendo o branco como base, formando um desenho quadriculado. Passou a ser importada para o continente europeu no século XVII, mas se consagrou nas décadas de 50 e 60, graças ao cinema europeu e, principalmente, à atriz francesa Brigitte Bardot.
Inspirada nas estampas usadas pelos marinheiros, esse estilo como moda surgiu com a Rainha Vitória, em 1840, quando ela presenteou o filho com um uniforme que carregava a estampa. Entretanto, foi na década de 20 que se popularizou nos guarda-roupas femininos graças à estilista francesa Coco Chanel.
Pucci
Criada na década em 1950 pelo designer de moda italiano Emilio Pucci, as cores vibrantes desse estilo se tornaram tendência mundial. Inspirada na cultura e nas paisagens do Mediterrâneo, a estampa pucci pode ser facilmente reconhecida até os dias de hoje, seja pelas cores vivas ou pelas formas geométricas.
Floral Liberty
Clássica nas peças mais românticas, essa estampa surgiu em 1875 com comerciante inglês Arthur Lasenby Liberty. As flores delicadas, mas de cor forte são populares até os dias de hoje.
Burberry
O Burberry é uma das mais queridas pelo mundo. Surgiu em 1924 e mistura as cores bege, vermelho, preto e branco formando um desenho em xadrez. Muito conhecida estampar bolsas, blusas, saias e por estar no forros de casacos, a estampa foi condecorada pela rainha Elizabeth II com uma menção honrosa dada a marcas.
Paisley
Tem-se notícias da estampa paisley ser vista originalmente em artefatos do Irã e do Império Romano. No entanto, foi na década de 70 que os desenhos em cores vibrantes e formato de lágrima se tornaram populares, principalmente dentro do movimento hippie.
Chevron
Esta estampa geométrica existe desde pelo menos 1800 a.C, sendo encontrada na Grécia em bandeiras, uniformes, porcelanas. Mas seu formato em zigue-zague francês, que remete a espinha de um peixe, é mais geométrica e pode ser tanto colorida quanto em preto e branco.
Gostou de conhecer um pouco mais sobre a origem do hábito de estampar tecidos? Então veja também algumas dicas de como usar e abusar das peças estampadas.
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