Várias condições podem causar sintomas como corrimento marrom e cólica em mulheres.
Um corrimento claro, branco ou mais transparente, seja espesso ou mais fluido, sem cheiro e nem nenhum outro tipo de sintoma, normalmente é apenas uma secreção natural do organismo. Entretanto, quando existe algo a mais, como corrimento de coloração marrom aliado à cólica, traz preocupação, pois pode estar associado a algo errado no nosso corpo.
É importante entender as possíveis causas desses sintomas e procurar ajuda médica sempre que necessário, especialmente se os sintomas forem persistentes.
O que pode ser corrimento marrom e cólica?
São muitas as possíveis causas para o corrimento marrom com cólica, a maioria delas sem gravidade ou riscos para a saúde, como por exemplo:
- Durante a adolescência, enquanto a menstruação ainda não regulou;
- Os primeiros dias da menstruação, onde um pouco de sangue se mistura às secreções naturais;
- Nos dias logo depois de uma menstruação, por causa dos resquicios de sangue que demoram um pouco mais para sair;
- Inicio de gravidez, podem ocorrer pequenos sangramentos na implantação do óvulo por volta do 7º ao 9º dias;
- Em relações durante a gravidez;
- Quando ocorrem relações sexuais mais intensas, pela possibilidade de pequenos sangramentos;
- Ovulação também pode dar uma coloração rosada-amarronzada ao corrimento;
- Reação a papanicolau ou exames vaginais em geral;
- Inicio da menopausa.
Outras causas do corrimento marrom
1.Doença inflamatória pélvica
Síndrome causada por bactérias nos genitais, que pode ocorrer por contato sexual desprotegido ou em alguns procedimentos médicos locais – como biopsia da parte interna do útero, colocação do Dispositivo Intra Uterino (DIU) ou curetagem. Isso por conta do risco de levar bactérias presentes na vagina aos órgãos sexuais internos. Quando esses microrganismos chegam ao útero, trompas e ovários, podem causar inflamações.
Esse quadro ocorre principalmente quando a gonorreia e a infecção por clamídia não são tratadas, causando uma infecção chamada cervicite, que pode evoluir para uma doença inflamatória pélvica. No entanto, também pode ocorrer em mulheres que têm vaginose bacteriana.
É mais comum em pessoas de 15 a 35 anos, com vida sexual ativa e que não utilizam preservativos, ao menos não com frequência, nas relações sexuais.
Os sintomas geralmente aparecem apenas quando há um aumento no numero de bactérias.
Segundo o Dr. Márcio Alcântara, obstetra e ginecologista da UNIMED Fortaleza, a DIP está dividida em duas formas: Aguda e Sintomática e Crônica.
As dores abdominais ou pélvicas fracas ou moderadas, embora em alguns casos sejam fortes e possam vir de repente, são comuns na forma aguda e sintomática da doença. Também um corrimento mal cheiroso que pode ser marrom ou amarelado, sangramento irregular do útero, dor ao urinar/manter relações e até náuseas e vomito. Em grande parte acompanhados de febre abaixo de 38.9º.
Já a crônica, ou subclínica, pode apresentar sintomas quase imperceptíveis. Quando existem, são tão leves que normalmente não há a busca pelo diagnóstico e tratamento médico. Tendem a durar muito tempo, o que pode agravar a situação e trazer o surgimento de complicações tais como: abcessos nas trompas e ovários; tecido cicatricial, que pode causar infertilidade; Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis, que é uma inflamação nas trompas; aumento no risco de uma gravidez ectópica; entre outras.
Como tratar
O tratamento para a cura da doença é possível após o diagnóstico, requerendo o uso de antibióticos por via oral ou intramuscular por cerca de duas semanas tanto para a pessoa infectada quanto para seu parceiro sexual, mesmo que este último não apresente sintomas. Em casos mais severos, pode ser necessária internação hospitalar para medicação por via venosa e/ou intervenção cirurgica.
Durante o tratamento é necessário suspender as relações sexuais, visto que o intuito do mesmo é interromper o processo inflamatório nos órgãos sexuais femininos, o que exige um tratamento correto e repouso, importantes para evitar que a infecção volte e permitir a cicatrização interna.
Prevenção é sempre o melhor remédio. Tendo em vista a relação direta entre a doença inflamatória pélvica e as infecções sexualmente transmissíveis, é recomendado manter as consultas ginecológicas e os exames em dia, utilizar preservativos sempre que houver atividade sexual, especialmente quando houver múltiplos parceiros, e, em caso de diagnóstico da doença, informar os parceiros para que todos possam seguir o tratamento indicado.
2.Irritação no colo do útero
É comum que a região do colo do útero seja muito sensível, e, dessa forma, situações simples acabem causando irritações.
O exame papanicolau, por exemplo ou até mesmo o contato sexual frequente, podem fazer com que ocorra uma irritação e, por consequência, libere corrimento marrom, causando também a cólica em algumas pessoas.
Como tratar
Não existe um tratamento específico para esse tipo de caso, já que não há tanta secreção, e não estão presentes outros sintomas. Entretanto, ainda é importante manter a região sempre limpa e seca, e em 2 dias o corrimento estará controlado. Além disso, também é essencial evitar o contato íntimo até que ele desapareça.
É muito importante buscar ajuda médica em caso de persistência ou apresentação de outros sintomas, pois apenas um profissional de saúde qualificado pode fazer um diagnóstico preciso e indicar o tratamento adequado para cada caso.
- Você sabe o que é a Candidíase?
3.Síndrome dos ovários policísticos
A síndrome dos ovários policísticos é outra culpada da aparição de corrimento marrom e cólica, devido à irregularidade na ovulação, sendo um distúrbio hormonal bastante comum, onde existe o surgimento de cistos que podem causar desde problemas leves como acne, excesso de pelos no rosto e corpo, manchas na pele e uma irregularidade no ciclo menstrual, até problemas de maior gravidade como sangramentos excessivos ou ausência das regras e infertilidade.
Ainda não se sabe ao certo o que causa essa síndrome, podendo ser uma mistura de fatores genéticos e ambientais, mas estima-se que afete por volta de 5 a 15% da população feminina, em idade propícia a reprodução, no mundo inteiro. Lembrando que a diferença entre cisto no ovário e síndrome dos ovários policísticos consiste na quantidade de cistos e no tamanho dos mesmos.
É muito importante estar atenta aos sintomas e procurar ajuda médica para testar a qualquer sinal de que se possa ter SOP, pois sem tratamento as chances de complicações como diabetes tipo 2, gordura não alcoólica no fígado, doenças cardiovasculares, entre outras, são mais altas.
Como tratar
O tratamento para SOP depende dos sintomas apresentados e de sua possivel causa, além dos objetivos de cada pessoa, visto que é uma condição para a vida toda. Geralmente, são oferecidas duas opções de tratamento, que podem ser usadas em conjunto ou separadamente: mudanças no estilo de vida, como dieta e exercícios físicos regulares, e medicações. As medicações incluem reposição hormonal para ajudar na ovulação e equilíbrio hormonal, além de remédios para regular o açúcar no sangue e gerenciar outros sintomas.
4.Cisto no ovário
Um cisto no ovário é uma pequena bolsa cheia de líquido ou de um material semisólido, que se forma dentro ou ao redor do mesmo, sendo comum em pessoas em idade fértil e podendo surgir várias vezes ao longo desse período, não sendo graves em sua maioria.
Os sintomas mais comuns, além de corrimento marrom e cólica, são muito parecidos com os da síndrome dos ovários policísticos, incluindo sensação de inchaço abdominal, dor ou desconforto durante contato sexual, excesso e/ou irregularidade no fluxo menstrual, dor no período da ovulação, além de náuseas e vomitos. Se esses sintomas forem notados, é importante buscar ajuda médica para uma avaliação e, se necessário, a decisão sobre qual o melhor tratamento a seguir.
Lembrando que também é muito importante se atentar a sintomas como febre, desmaios, sangramentos e frequencia respiratória alterada, pois pode ser indicativo do rompimento ou torção do cisto, ou ainda que ele esteja afetando o fluxo sanguineo no ovário.
Como tratar
Na maioria das vezes o cisto ovariano desaparece por si só em algumas semanas, sem necessidade de tratamento, porém continua sendo importante fazer o acompanhamento com seu médico ginecologista com regularidade, para se assegurar de que o cisto está regredindo.
Em alguns casos se recomenda o uso de anticoncepcionais, para regular os níveis hormonais.
Quando é um cisto muito grande ou do rompimento do mesmo, intervenção cirúrgica se faz necessária.
5.Endometriose
O crescimento do endométrio fora do útero caracteriza a endometriose, sendo os locais mais comuns o intestino, os ovários e as trompas de falópio. É uma condição crônica que causa uma série de sintomas que incluem, mas não se limitam a, corrimento marrom, dor para evacuar, excesso de fluxo menstrual, inchaço abdominal, cólica intensa antes ou durante a menstruação.
A endometriose é também muito conhecida por dificultar uma gravidez, visto que o tecido que normalmente cresceria no útero se expande por outras partes do corpo. A maioria das vezes acaba sendo diagnosticado justamente durante exames que avaliam os motivos para uma possivel infertilidade.
Mulheres que tenham casos de endrometriose na família tem uma disposição maior a desenvolver a condição, por ter o envolvimento dos fatores genéticos.
Como tratar
O tratamento é específico para cada mulher por conta dos sintomas, gravidade da condição e idade. Assim, é essencial consultar um ginecologista com maior regularidade, e realizar todos os exames necessários.
Em caso de endometriose leve, é provável que o tratamento consista em anti-inflamatórios que diminuem a dor, mas não impedem o avanço da doença.
Se a endometriose for profunda, podem ser utilizados remédios hormonais e há também a possibilidade de cirurgia para a redução do tecido endometrial fora do útero.
É importante lembrar que esses tratamentos são normalmente utilizados por mulheres próximas da menopausa ou em estágios avançados da doença, pois reduzem ainda mais a chance de engravidar.
6.Infecções sexualmente transmissíveis
Outra possível causa são infecções sexualmente transmissíveis, como clamidia, gonorréia e Tricomoníase.
Clamídia é causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, que provoca cervicite, trazendo corrimento marrom e cólica, além de um odor desagradável. No entanto, nem todas as mulheres notam nenhum cheiro específico.
A bactéria Neisseria gonorrhoeae é a causadora da Gonorréia. Também provoca cervicite e os mesmos sintomas da Clamídia, mas, além desses, quem sofre com essa inflamação pode sentir dor ou queimação ao urinar e sangramentos fora do período menstrual.
Embora o corrimento da clamídia e da gonorreia possam ser semelhantes, no caso da clamídia geralmente apresenta um quadro mais leve.
Já a tricomoníase é causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis. Nem sempre há sintomas, mas quando sim costumam ser como os de uma vaginite, com corrimento mal cheiroso, dor ao urinar, sangramento e dor durante relação sexual e irritação na vulva. É bem possível que os sintomas piorem durante a menstruação.
A tricomoníase pode permanecer assintomático por muito tempo até provocar a vaginite, o que faz ser muito difícil determinar quando houve a contaminação. Porém, sem um tratamento, pode durar meses ou anos, o que faz ser um fator de risco para câncer de colo de útero e infertilidade.
Como tratar
Os tratamentos dependem da causa e variam muito. Podem ser antifúngicos, antibióticos ou cremes de estrogênio. Só um ginecologista pode avaliar e dizer qual o caso e o tratamento indicados, sendo assim o ideal é ir ao médico ao primeiro sinal de que algo não está como deve.
7.Câncer no colo do útero
O principal causante do câncer de colo de útero é o HPV (Papilomavírus humano) de alto risco, que é responsável não apenas o câncer de colo do útero, como também no penis, no anus, na boca e na garganta. O HPV é um virus sexualmente transmissível com mais de 100 variações, mas não é o unico vilão quando se fala desse tipo de doença.
O uso prolongado de pilula contraceptiva sem acompanhamento médico, dificuldade ao acesso de exames preventivos, muitas gestações ou gravidez antes dos 17 anos, múltiplos parceiros sexuiais sem proteção também são algumas das razões pelas quais uma pessoa possa desenvolver a doença. Todas as pessoas que tenham um cérvix estão suscetíveis a esse tipo de câncer, sendo possível que se manifeste não apenas em mulheres cis, mas também em homens trans, pessoas não binárias e pessoas intersex.
Esse tipo de câncer tem progressão lenta, e, sendo assim, na maioria das vezes a um principio não costuma ter sintomas. Quando mais avançada pode se manifestar na forma de sangramentos no intervalo das menstruações, sangramento vivo após relações sexuais ou durante exames ginecológicos, odor desagradável, dor e sangramento ao evacuar, entre outros.
Como tratar:
É recomendado buscar ajuda médica ao primeiro sinal de qualquer um desses sintomas, para que seja feita uma avaliação adequada pelo médico ginecologista. Todo câncer diagnosticado de forma precoce tem muito mais chances de cura.
Os tratamentos podem variar e incluir cirurgia para a retirada de tumores ou do útero por completo, radioterapia, quimioterapia e terapia hormonal após o diagnóstico.
8.Mioma uterino
São tumores formados por tecido muscular. São benignos e normalmente acontecem durante a fase reprodutiva da vida, quando há a menstruação e a possibilidade de uma gravidez. Ainda não se conhece a causa do seu crescimento, mas é sabido que fatores hormonais influenciam, e que ocorre uma diminuição após a menopausa.
Podem provocar sangramento anormal, muitas das vezes com coágulos, o que aumenta as chances de uma anemia. O mioma também causa inchaço abdominal, diarreia ou prisão de ventre, incontinência urinária e corrimento marrom com cólicas, dependendo de seu tamanho, quantidade e posição. Miomas muito próximos à parte central do útero podem provocar sangramentos e dificuldade de iniciar ou levar a termo uma gestação. Em casos mais raros pode levar à infertilidade.
Como tratar:
O tratamento, como na maioria das doenças, depende do caso, da idade, e de diversos fatores envolvendo os miomas. Pode ser tratamento medicamentoso ou cirurgia.
9.Troca de anticoncepcional
Anticoncepcionais podem causar o que chamam de sangramento de escape, que é uma pequena quantidade de sangue no meio dos fluidos naturais do corpo. Quando há a troca de AC, por conta do desequilíbrio hormonal, existe a chance de vir um corrimento comparado com borra de café. Acompanhado ou não de cólicas. Isso pode ser um sinal de que o corpo ainda está se adequando ao novo medicamento ou de que não se adaptou. Tudo vai depender do tempo que esse escape dure.
Como tratar:
Se o escape for persistente ou incômodo, você deve consultar um médico. Pode ser necessária uma nova troca de AC ou apenas o acompanhamento.
Quando procurar o médico?
Sempre que houver algum sintoma além do corrimento marrom e da cólica, como odores, ardor ou sangramentos na hora de urinar ou defecar, coceira na zona genital ou quando permanecer durante mais de uma semana.
É sempre bom, de todos os modos, manter os exames em dia e ficar sempre atenta a qualquer alteração no corpo.
Um diagnóstico precoce pode marcar a diferença.
Prevenção do corrimento marrom
Coisas como:
- A utilização de preservativos durante as relações;
- Uma correta higienização dos órgãos sexuais, evitando ao máximo a utilização de duchas vaginais e o excesso de sabonetes intimos ou lencinhos umedecidos;
- Não utilizar em excesso protetores diário de calcinhas, pois abafar essa região ajuda a proliferar bactérias;
- Optar por calcinhas de algodão ao invés de sintéticas também é sempre melhor para manter o frescor e deixar essa parte do corpo respirar;
- Não depilar as partes intimas com tanta frequencia, para que não ocorram possíveis cortes.
São algumas das medidas recomendadas para manter a saúde vaginal e prevenir o surgimento de corrimento marrom. Evite também ficar com biquínis molhados por muitas horas, pois a umidade e o calor são elementos decisivos quando se trata de fungos e bactérias. Roupas apertadas também são um parque de diversões para todo o tipo de organismos, por impedir a ventilação.
- Veja algumas dicas de higiene e cuidados com a região íntima
Acima de tudo, sempre ir ao médico ao menor sinal de alerta. Ignorar os sintomas ou tentar se automedicar pode piorar a situação e até mesmo levar a complicações graves. Portanto, sempre que houver dúvidas ou preocupações em relação à saúde, é fundamental consultar um médico. Fazer o papanicolau ao menos uma vez ao ano e sempre cuidar da saúde é a melhor prevenção para todos os tipos de doenças.
Gostou de saber um pouco mais sobre o que pode ser o corrimento marrom com cólica? Que tal ver também TODOS os benefícios do pompoarismo para a saúde da mulher
Fontes: Dr Alexandre Rossani, Medical News Today, Dr Drauzio Varella, Unimed Fortaleza, Tua Saúde, Gov.BR, Hospital 9 de Julho, MD. Saúde, Viva Bem, BVS Ministério da Saúde, Clue