Você pode até se perguntar se o mundo ficou “chato” demais, mas a resposta para o questionamento é simples: não. As novas recomendações de restrições de fantasias para não usar no Halloween não existem para complicar sua vida, mas sim lhe fazer refletir. Afinal, hoje em dia, ter acesso às informações mais livremente, bem como formas diferentes de pensar, é uma prova de que nada passou a existir de um dia por outro. A invenção das redes sociais e dos debates culturais apenas traz à tona tudo que foi encoberto por tanto tempo.
E os tais debates estão disponíveis em qualquer momento do ano, mas épocas como o Halloween e o Carnaval os deixam ainda mais inflamados. Isso acontece porque, todos os anos, surge a desculpa de que muitos não entendem ou não sabem que uma fantasia pode ser ofensiva. Todavia, esse tipo de pensamento não deve ser perpetuado. Mesmo assim, muitos sequer fazem questão de escutar e buscar mudar seu modo de pensar.
Apesar de muitos não verem problemas em certos tipos de caracterização, entender o contexto em que você está inserida e o fato de que algumas fantasias são ofensivas e até mesmo criminosas é essencial. Assim, aprender a pensar duas vezes antes de tomar uma decisão deve fazer parte de sua lista de afazeres para as festividades. Dessa forma, você descobre quais são as fantasias para não usar no Halloween, e de quebra, nunca mais passa o vexame de fazer algo que pode estar ferindo alguém, mesmo que indiretamente.
Confira abaixo quais são as fantasias para não usar no Halloween, bem como os motivos pelos quais elas não devem mais ser uma possibilidade para sua caracterização da festa.
Quais são as fantasias para não usar no Halloween?
Boa parte dessas opções pode até mesmo não ser de seu conhecimento que são, afinal, ofensivas. Outras, porém, são tão óbvias que vão lhe fazer perceber o quão absurdas algumas caracterizações podem ser.
1 – Blackface
O caso de fantasias com blackface é tanto histórico quanto cultural. Aparentemente, esse tipo de caracterização surgiu por volta de 1830. O intuito era ridicularizar os negros ao pintar o rosto de preto, fazendo caricaturas grotescas não só de um povo, mas também de seus costumes. Nesse sentido, é também importante saber que, por anos, negros foram impedidos de trabalhar em teatros, no cinema e na televisão, sendo substituídos por brancos com a pele escurecida por maquiagem. O caso é apenas mais um exemplo da segregação racial.
Da mesma forma, o blackface também está relacionado aos estereótipos de corpos negros femininos, como a famosa “nega maluca”. Isso acontece pelo fato de mulheres negras serem taxadas de escandalosas e raivosas, e ainda por cima serem hipersexualizadas. Esse tipo de fantasia ainda traz a questão do racismo recreativo, que envolve humor racista, propagando o racismo de uma forma menos escancarada, mas ainda real.
2 – Personagens históricos polêmicos
É comum que, no Halloween, muitos façam o possível para aparecer com o visual mais esculachado o possível. Nesse sentido, não entram em pauta personagens de filmes de terror como Michael Myers ou Freddy Krueger, que não causam nenhum problema. O verdadeiro problema é se vestir de alguém que é um verdadeiro filme de terror: personalidades como Adolf Hitler, Ted Bundy e Charles Manson. Ou até mesmo nomes nacionais, como Suzane Von Richtofen e o Goleiro Bruno. Ao fazer uma fantasia, é importante lembrar que você está prestando uma homenagem.
3 – Personagens históricos fora de contexto
Pode até parecer maluquice, mas muitas pessoas, ao escolherem sua fantasia de Halloween, acreditam ser uma boa ideia se caracterizar de personagens como Anne Frank. Apesar desse tipo de fantasia não ser a mais problemática de todas, é importante entender que, não, isso não é de bom tom. Afinal, mesmo que fosse uma garota admirável, Anne era uma judia vivendo o período da 2ª Guerra Mundial, com pais assassinados pelo nazismo, vivendo escondida e sem seus direitos por conta de um regime totalitário.
4 – Terrorista/Homem bomba no Halloween
Por anos, criadores de conteúdo muçulmanos utilizaram suas redes sociais para lutar contra estereótipos em relação ao seu povo, que é extremamente generalizado no Ocidente. Assim, fazer uma apologia ao terrorismo no Halloween é praticamente a mesma coisa que se fantasiar de um personagem polêmico. Da mesma forma, se vestir de “mulher bomba” é algo absurdamente ofensivo e ignorante para muçulmanos, árabes e todas as famílias de vítimas de tais casos.
5 – Fantasias de simbologia religiosa e cultural
Um dos exemplos mais famosos do caso é a atriz Alessandra Negrini, que apareceu nas redes sociais durante o Carnaval de 2020 em casa vestida de indígena. A problematização, então, surgiu dos dois lados: tanto da apropriação cultural, quanto da ideia de que a atriz estava prestando uma homenagem em um período em que muito se falava sobre genocídio indígena. Nesse sentido, é difícil saber se o caso foi certo ou errado, já que até mesmo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil veio em defesa da atriz e sua ajuda ao longo dos anos.
Seja como for, caracterizar-se de mulheres ciganas, havaianas, baianas, odaliscas e outras opções deve continuar sendo evitar. Apesar de não parecer ofensivo, aquilo ainda pode soar ofensivo para alguém da cultura ou religião. Não é difícil encontrar outro tipo de fantasia para o Halloween que não ofenda ninguém.
6 – Fantasias de pessoas LGBTQIA+ no Halloween
O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. A cada 23h, registra-se uma morte por homofobia. Além disso, em 2020, o assassinato de pessoas trans subiu para 41%. Seja como for, orientação sexual e identidade de gênero não devem ser suas fantasias. Elas são a realidade de alguém. Uma realidade marcada por, além de aceitação, sofrimento perante o tratamento da sociedade. A luta deles não deve ser seu acessório de festa.
7 – Fantasia de pessoa gorda
Da mesma forma que blackface não deve mais acontecer, pensar que uma pessoa gorda é uma fantasia é tão inaceitável quanto. Isso, afinal, é simplesmente gordofobia. Ao se vestir de uma pessoa gorda, você ironiza sua condição física, fazendo com que aquela aparência torne-se digna de piada, pena e ofensas. É importante lembrar como corpos gordos são as principais vítimas de padrões estéticos e de beleza.
8 – Vestes de figuras religiosas no Halloween
Não é nenhuma novidade que certas figuras religiosas são literalmente sagradas para milhares de pessoas. Seja como for, mexer com a fé de alguém é um assunto delicado. É possível homenagear santidades e divindades de muitas formas, mas certamente não em festas de Halloween, principalmente se for uma versão “sexy“.