Você já deve ter escutado esse termo antes. O empoderamento feminino tem crescido muito nas buscas atualmente, e tem sido tema recorrente de livros, filmes, séries, podcasts e os mais diversos posts nas redes sociais. Mas você sabe quais são seus princípios? E, aliás, você sabe por que esse conceito é tão importante nos dias atuais?
De acordo com o dicionário Aurélio, a palavra empoderamento tem dois significados. No significado comum, empoderamento significa, acima de tudo, a ação de passar a ser poderoso ou poderosa. Dessa forma, constituindo poder sobre algo ou alguém. Além dessa definição, o dicionário também disponibiliza o significado da gíria empoderamento. Nesse caso, significa passar a ter domínio sobre o que lhe diz respeito, ou seja, ter poder de si mesmo.
Levando em conta esta definição, é possível perceber que o empoderamento não é único e exclusivamente pertencente da luta feminina. Quando alguém se torna empoderado, torna-se dono de si próprio. Assim, reconhecendo seus direitos e deveres, lutando contra as injustiças, principalmente de classes inferiorizadas, como as pessoas LGBTQIA+ e as pessoas negras.
Dessa forma, podemos entender empoderamento feminino como um meio de que mulheres possam ter mais domínio sobre suas próprias vidas. Além de, é claro, impor respeito e aumentar o prestígio e poder que pouco lhes foi concedido ao longo dos anos. Sendo assim, sabemos que esta luta não é de hoje. Por isso, devemos nos engajar mais com as lutas femininas e entender melhor o que elas representam.
O que é e como surgiu o empoderamento feminino?
Desde muito tempo atrás, é fato que as mulheres sofrem opressões, simplesmente por serem mulheres. Gostam de nos chamar de “sexo frágil”, impondo regras no que devemos vestir ou como nos comportar na sociedade. Por isso, o termo empoderamento ganhou extrema força depois que surgiu, isto é, nos anos 1970 nos Estados Unidos.
As mulheres, cansadas de tanta opressão, incorporaram esse termo, empoderamento feminino, após ele ser usado primeiramente para debater questões raciais. Desde então, a palavra foi sendo muito compartilhada. Na segunda década dos anos 2000, o empoderamento obteve mais prestígio no contexto brasileiro. Isso devido a ascensão das redes sociais no país.
Resumidamente, o empoderamento feminino é, então, a conscientização de cada mulher sobre seu próprio poder. Além disso, não só seu poder, mas também tomar consciência dos seus direitos e lutar para que eles sejam respeitados. Uma pessoa empoderada, portanto, é aquela pessoa que saber do seu próprio poder e conhece sua autonomia.
Empoderamento feminino x Feminismo
É importante destacar que os termos empoderamento feminino e feminismo são diferentes. Por isso, podemos entender o feminismo como uma corrente ideológica que busca a igualdade entre os gêneros. Essa equidade dentro dos âmbitos político, sociais e econômicos.
Já o empoderamento feminino têm mais relação com uma consciência coletiva das mulheres, que não se deixam serem inferiorizadas pelo seu gênero. Portanto, elas agem contra essa inferiorização, fortalecendo suas escolhas e desenvolvendo a equidade de gêneros.
Uma característica em comum dos dois movimentos é a busca pela igualdade de gênero. Isto é, o empoderamento feminino pode ser considerado uma consequência do movimento feminista, tendo em vista que ambos caminham para o mesmo fim, a luta contra o machismo estrutural e a sociedade patriarcal.
Para que serve o empoderamento feminino?
Além de tudo que já falamos até aqui, o empoderamento feminino serve, acima de tudo, para que as mulheres conquistem mais espaços. Dessa forma, as mulheres são capazes de participar ativamente de todas as discussões da sociedade. Sobre política, sobre a sociedade, sobre ações que afetarão seu próprio futuro e o futuro do país.
Além dos diversos nomes que contribuíram para que pudéssemos conquistar o que temos hoje, existem muitas outras mulheres menos citadas que tiveram um papel fundamental para isso. Anita Garibaldi, Joana Darc, Jacqueline Cochran, Maria Quitéria são só alguns desses nomes que sabemos.
A primeira mulher brasileira que publicou uma obra lutando a favor dos direitos das mulheres e contra as injustiças masculinas foi Nísia Floresta, em 1832. O seu livro tem como título “Direito das mulheres e injustiças dos homens”. A partir daí, temos Narcisa Amália como a primeira mulher a se tornar jornalista profissional.
Todas essas mulheres lutaram contra as leis do silêncio e da obediência que eram impostas e, dessa forma, abriram portas para os caminhos e as liberdades que temos hoje. Sendo assim, o empoderamento feminino serve para que outras mulheres, no futuro, possam conquistar ainda mais direitos e respeito dentro da sociedade.
Respeito dos direitos e o empoderamento feminino
Embora possamos pensar que, nós, mulheres do ocidente, temos muitos direitos, precisamos rever aqueles que são respeitados e os que não são. Isto é, precisamos pensar na questão da desigualdade de salários entre homens e mulher; na relação super diferente entre a participação política de mulheres e homens; nas oportunidades de trabalho, entre muitas outras coisas.
Por isso, lutar pelo respeito dos nossos direitos e da nossa valorização é muito importante. Além do mais, você sabia que mesmo estudando mais, as mulheres ainda recebem menos que os homens? E aliás, elas também são responsáveis por realizar todo o trabalho doméstico. Ao invés de haver uma divisão justa.
Entretanto, sabemos que existem mulheres em condições e regime piores do que no ocidente. Assim, milhares de mulheres do mundo todo têm seus direitos negados. Muitas vezes, elas precisam da autorização do marido ou do pai para realizar ações simples para nós, como viajar. Além disso, estudar também pode ser uma grande conquista para muitas.
A jovem ativista Malala Yousafzai do Paquistão é uma dessas mulheres. Ela foi proibida de estudar após uma imposição no dia 15 de janeiro de 2009. Ela, que queria se tornar médica, lutou pelo direito de estudar e participou de um documentário do jornal The New York Times. Malala sofreu ameaças e depois de alguns anos sofreu um tiro na cabeça.
Felizmente, a jovem sobreviveu, e a sua luta pelos direito humano básico de estudar garantiu a ela o prêmio Nobel da paz. Sendo assim, Malala foi a pessoa mais jovem a ganhar um prêmio dessa categoria. Hoje, ela continua sendo uma inspiração para muitas mulheres que sofrem para que respeitem seus direitos.
Os 7 princípios do empoderamento feminino
A Organização das Nações Unidas, a ONU, em 2010, publicou uma cartilha descrevendo os sete princípios do empoderamento feminino, para que eles fossem postos em prática. Dessa forma, dentro das empresas e no âmbito do trabalho, as mulheres podem buscar esses princípios para garantir seus direitos.
Com isso, a organização espera construir um mundo, tanto corporativo quanto coletivo, melhor do que os dias atuais. Acompanhe agora quais são os 7 Princípios do Empoderamento das Mulheres (WEP):
1. Liderança
Esse princípio busca estabelecer uma sensibilidade corporativa dos líderes de alto nível quanto à igualdade de gêneros.
2. Igualdade de oportunidades, inclusão e não-discriminação
Esse princípio declara que deve-se tratar mulheres e homens de forma justa, com oportunidades iguais, incluindo cada um dos gêneros e não discriminando nenhum ser.
3. Segurança, saúde e fim da violência
Com isso, fica estabelecido que o empregador deve garantir a saúde, o bem-estar e principalmente a segurança de todas as mulheres e homens da empresa.
4. Formação e educação
É necessário promover uma formação, capacitação, educação e de desenvolvimento profissional para mulheres.
5. Empreendedorismo e políticas de empoderamento
Com isso, quer dizer que as empresas devem apoiar o empreendedorismo de mulheres e as práticas de marketing que empoderem as mulheres.
6. Ativismo social
Além disso, as empresas devem também promover a igualdade em práticas comunitárias e o ativismo social.
7. Acompanhamento de resultados
Por fim, as empresas devem medir e acompanhar os resultados dessas práticas de igualdade de gênero. Aliás, devem também documentar e publicar esses resultados, estabelecendo transparência.
Empoderamento LGBTQIA+
Como já citamos, o empoderamento não é restrito somente às mulheres e pode atender a todos que sofrem opressões. Sendo assim, a comunidade LGBTQIA+ é constantemente vítima de ofensas, sendo muito inferiorizados em suas ações e participações na comunidade social, política e econômica.
Dessa forma, podemos dizer que, ainda, dentro da mesma comunidade, pessoas transsexuais sofrem mais preconceitos. Diante de muitas lutas e difícil sucesso, uma importante conquista para essas pessoas é a de poder usar o nome social no título de eleitor de todas as cidades e regiões brasileiras.
Isso determina, portanto, que pessoas transsexuais tenham em seu documento eleitoral o nome que se identificam. Portanto, é muito importante se referir a uma pessoa transsexual da forma que ela deseja, mostrando respeito, direito básico dos seres humanos. Essa decisão foi aprovada no Tribunal Superior Eleitoral em 22 de março de 2018.
Além disso, a comunidade LGBTQIA+ ainda enfrenta muitas dificuldades de representatividade. No trabalho, na política, nas lideranças e até mesmo nos esportes, como nas Olimpíadas, pessoas sofrem preconceito por causa da sua sexualidade. Por isso, o empoderamento dessas pessoas segue sendo muito valioso para serem capazes de lutar pelos seus direitos de igualdade.
Empoderamento Negro
Além do empoderamento feminino e LGBTQIA+, o empoderamento e a repercussão do movimento negro têm ganhado espaço. Porém, é super importante que mais pessoas tomem consciência da sua condição racial, e se empoderem cada vez mais. Ocupando espaços e fortalecendo a voz dessas pessoas.
Como se sabe, o Brasil foi um dos países que mais receberam escravos negros por exportação durante o período colonial. E isso não é nenhum motivo de orgulho. Ainda, a partir da abolição da escravidão, essas pessoas não receberam nenhuma condição que igualasse as suas oportunidades com as das pessoas que já eram livres.
Portanto, o racismo institucionalizado nos dias atuais, através de expressões como “não sou tuas negas”, “serviço de preto”, “tem o pé na senzala”, “cabelo ruim” precisam ser imediatamente retiradas do nosso vocabulário. Assim, não normalizamos, em tom de piada, aspectos que precisam ser combatidos.
Empoderar pessoas negras, é dar voz para todos os preconceitos e racismo que essas pessoas passam ao longo da vida. Dessa forma, as pessoas negras se apropriam das suas características e passam a ter orgulho delas, como é o caso do cabelo crespo. Sempre alvo de muitas críticas, os cabelos de pessoas negras passaram a ter uma representação maior. Se tornaram um modelo a ser seguido para entender as origens de quem tem essa característica.
Em 2016, a marca de lingeries Victoria’s Secret apresentou duas modelos com cabelos crespos desfilando nas passarelas com seus modelos. Isso reflete a auto-aceitação e amor próprio, ingredientes chave para o empoderamento. Ainda assim, a busca por representatividade continua diariamente dentro do movimento negro.
Empoderamento de todos
Por fim, mas não menos importante, devemos pensar em um empoderamento coletivo. Além do necessário empoderamento das minorias já citadas, este conceito vai além das mulheres, dos homossexuais, transsexuais e negros. O empoderamento, finalmente, é a busca por autonomia e poder de si mesmo.
Sendo assim, a busca pelos seus direitos, pelos direitos do outro é sim um empoderamento. E esse poder está em constante desenvolvimento ao longo da nossa vida. Por isso, ter consciência de quem você é, de suas origens e de outras pessoas ao seu redor é tão importante para que você seja uma pessoa empoderada.
Finalmente, o respeito pelo próximo e por si mesmo também inclui as ações e empoderamento. E sim, podemos ter um empoderamento feminino mesmo em ambientes tão masculinos e historicamente machistas. Basta que todos se juntem em busca de um só objetivo: a igualdade de gêneros em todos os aspectos da sociedade.
Fontes: Impact Hub Curitiba, Movimento mulher 360, Politize, ONU Mulheres
Imagem de destaque: Zenklub
Imagens: Mindminers, DCI, Eu sem fronteiras, Timoneiro, Finanças femininas, Governo do Estado de São Paulo, Cláudia Abril, Pure Break