Hoje em dia, a lingerie é vista principalmente como um acessório sensual. Mas a história da roupa íntima mostra que ela vai muito além de um objeto ligado somente ao desejo e prazer. Conhecer todo o contexto em que se criou as peças íntimas, é entender também como a sociedade evoluiu, especialmente para as mulheres.
Muito além de uma calcinha e sutiã, a lingerie também é um símbolo da luta pela igualdade de gênero, e abordagem de questões delicadas, como sexualidade e moralidade. Sem contar o estilo, é claro, já que a peça é hoje uma parte importante da indústria da moda.
Até chegar no modelo que vemos hoje, as roupas íntimas passaram por várias mudanças, desde o formato até a finalidade. E isso diz muito sobre o papel das mulheres durante a história.
Imagine você, um mundo onde as mulheres usavam espartilhos super apertados, com o intuito de afinar a cintura. Ou que enfaixavam os seios, apertando os para alcançar um visual mais andrógino. E que chegaram a queimar sutiãs em praça pública para declarar a sua própria liberdade. Tudo isso faz parte da história, e ajudou a solidificar a lingerie como conhecemos na atualidade.
Portanto, hoje iremos conhecer mais a história da lingerie, e como ela se tornou o que é hoje.
As primeiras roupas íntimas
Não se sabe ao certo quando e onde começou a ideia de roupa íntima. No entanto, o primeiro registro que se tem de vestimentas do tipo vem da Grécia Antiga. Naquele tempo, era comum que as mulheres usassem uma faixa de pano ao redor do tórax, cobrindo e sustentando os seios. Além disso, elas usavam também uma espécie de fralda de algodão na parte de baixo.
Já os sutiãs e calcinhas que são usados hoje em dia, surgiram mesmo no século XIX. Contudo, até essa época, o que predominava mesmo no quesito roupas debaixo femininas eram os espartilhos e as crinolinas. Desse modo, essas vestimentas tinha o intuito de redesenhar a silhueta feminina, deixando as mulheres com as cinturas mais finas e postura ereta.
A palavra lingerie tem origem no nome latino linum, que significava linho. Assim, essa palavra sofreu diversas mudanças, de conceito e escrita, até chegar em lingerie que, em francês, significava comércio de roupas brancas, fazendo menção a cor dos fios de linho com que eram feitas as peças.
Esse conceito foi usado inicialmente como um eufemismo para roupas íntimas consideradas escandalosas. Sendo assim, até a sua popularização nos anos de 1850, o termo lingerie era usado de forma geral, para se referir a roupas de baixo que tinham muitos detalhes, independentemente de serem femininas ou masculinas.
Por fim, a sensualidade só foi associada às roupas íntimas muito tempo depois, na década de 1950, com a popularização das pin-ups.
História da lingerie
Pode-se dizer então que a história da lingerie começa no século XIX, quando em 1800 foram criadas as primeiras calcinhas. Naquela época, não era esse o nome, a peça percussora da calcinha se chamava pantaloon. Os pantaloons eram feitos primordialmente em tons pastéis, com tecido leve, e formato muito parecido com os calções masculinos, que chegavam até a altura dos joelhos.
Três décadas depois, no período marcado pelo estilo romântico, as mulheres usavam roupas com a cintura marcada, saias em formato de sino e mangas bufantes. Esse estilo só era possível graças ao advento do espartilho e da crinolina, que era usados para deixar a mulher com uma aparência sedutora e elegante.
Só então na década de 1850 que começa a se confeccionar modelos diferentes de roupas íntimas. No entanto, isso era apenas a modernização dos tradicionais espartilhos, que agora ganhavam novos adereços, como o cetim, o bojo e a renda.
Corpete para seios
Até então, o foco das roupas íntimas era manter a postura e a silhueta das mulheres. Portanto, não havia nada específico para sustentar os seios de forma prática. Isso muda em 1889, quando Hermione Caddole inventa uma peça revolucionária: o corpete para seios. Sua ideia mudou completamente o conceito de suporte para seios, que agora vinha com alças que se apoiavam nos ombros.
Então, pode-se dizer que o primeiro sutiã contemporâneo foi a invenção de Caddole. Essa que tinha o intuito de dar um pouco mais de conforto às mulheres. Feito com um tecido à base de algodão e seda, a peça revolucionou o mundo da moda, originando o modelo base dos sutiãs usados nos dias atuais.
Revolução das peças íntimas
Logo em seguida, no começo dos anos de 1890 as peças íntimas começam a ganhar um novo aspecto. Nessa época, elas deixam de ser tão volumosas e restritivas, e os tradicionais corsets são substituídos pelos brassiere, um tipo de sutiã.
Outra grande mudança acontece na década de 1920, quando as lingeries passam por uma repaginada, ganhando um aspecto mais masculinizado. Desse modo, o formato das peças já não davam chance para as roupas volumosas, e as mulheres começaram a usar peças mais justas, como as anáguas. Com isso, possibilitavam uma silhueta menos justa e mais livre.
Além disso os fabricantes começam a investir em um versão mais leve dessa peça, dando prioridade a tecidos mais frescos e confortáveis. Sendo assim, a peça combinava bem com vestidos mais fluidos, marca dos anos 20 e 30.
Outro marco dessa época, foram as camisolas costuradas com calcinhas, os chamados camiknickers. Essa peça se tornou muito popular entre as mulheres, já que permitia o seu uso sob vestidos mais curtos. E as camiknickers continuaram a fazer parte dos vestuários das mulheres até a Segunda Guerra Mundial, quando elas começaram a usar calças e atuar em funções, que até então eram consideradas apenas masculinas.
Sensualidade
A sensualidade passa a ser relacionada com a lingerie apenas na década de 1950, isso graças as pin-ups. Enquanto a maioria das mulheres mantinham a tradição de se vestir mais delicadamente, as pin-ups vinham para revolucionar a moda, o padrão de beleza e as lingeries.
Elas faziam questão de exibir peças íntimas extremamente sensuais e provocativas. Não por acaso, se tornaram símbolo de sex-appeal da época, usando corsets leves e cintas-ligas coloridas, e cheias de rendas e acessórios. Claro, tudo isso junto aos seus corpos voluptuosos, que estabeleceram o padrão estético da época.
Novos modelos de roupa íntima
Após a popularização das pin-ups, e em meio ao psicodelismo e a tecnologia em ascensão, as roupas íntimas ganharam uma nova repaginada. Na década de 1960, as mulheres já tinham mais a oportunidade de escolher qual lingerie usar. Então, a partir desse momento, a indústria começa a investir em modelos mais modernos.
Nos anos 1980, as tangas e os bodys se tornam a sensação entre as mulheres, principalmente entre as cantoras de rock da época. Entre elas, podemos citar a cantora Cher.
Na década seguinte, o wonderbra (sutiã com aro realçador) ficou em evidência no corpo da modelo Eva Herizgova, que estampou um editorial para a Billboard. Na época, a peça causou uma enorme polemica a nível internacional. O que, consequentemente, ajudou na sua popularização.
As lingeries atuais
Nos anos 2000, com a virada do século muita coisa muda, incluindo os modelos de lingerie. É impossível falar sobre a modernização da lingerie sem falar da marca Victoria’s Secret, a principal difusora dos modelos de lingerie que são usados atualmente.
A marca foi responsável por fazer peças íntimas delicadas e sensuais, o desejo de consumo de muitas mulheres. E além das peças especialmente desenhadas, ela revolucionou a moda íntima e também o padrão de beleza feminino. Isso graças ao seu tradicional desfile, onde as suas peças eram exibidas nos corpos de modelos magérrimas.
O fato é que diferentemente de uma século atrás, hoje em dia as lingeries são sinônimo de conforto e liberdade para as mulheres. Com uma enorme variedade de opções. Atualmente, as mulheres têm opção de escolher entre peças sensuais, delicadas e confortáveis. Feitas com os mais diversos tecidos, para todos os corpos. Uma conquista enorme, visto que antigamente a roupa íntima era vista como um símbolo de opressão.
Curiosidades
E para finalizar, o Área de Mulher separou curiosidades sobre algumas peças de lingerie que se destacaram na história. Confira abaixo!
Espartilhos
Os espartilhos eram muito usados pela nobreza do século XVIII. No entanto, a peça não era nada funcional, uma vez que precisava da ajuda de uma criada para ser colocado. Sem contar que era muito incomodo e até doloroso. A peça tinha o intuito de afinar a cintura das mulheres e projetar os seios para cima. No entanto, o espartilho apertava tanto os órgãos internos das mulheres, que houveram até casos de hemorragias e mortes pelo seu uso.
Atualmente, o espartilho tem voltado a moda e está sendo muito usado por cima das roupas ou como peça única, já que os novos modelos são muito enfeitados e dos mais diversos estilos. Entretanto, é muito importante ressaltar os cuidados com essa peça, para que ninguém sofra com as pressões estéticas e acabe se machucando por apertar demais os espartilhos, como antigamente.
Crinolina
A crinolina é outro acessório que foi muito usado pela nobreza no passado. Se trata de uma armação feita de linho e crina de cavalo que era usado por baixo do vestido, afim de manter o formato cheio da saia. No entanto, também não era nada confortável e atrapalhava a movimentação das mulheres. No século 19 as mulheres se voltaram contra o uso do acessório, com o argumento de que ele danificava os órgãos internos e deformava o corpo. Além disso, a crinolina era altamente inflamável, o que provocou diversos acidentes, alguns fatais.
Camisola combinação
Logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, o padrão de beleza permitia as mulheres uma silhueta mais reta e esguia. Sendo assim, a camisola combinação começou a ser usada por baixo da roupa. Atualmente, os modelos de camisola são usados como pijamas, para dormir, e a maioria é feito de algodão, sendo assim mais confortável para uso.
Meia calça
A meia calça surgiu no século XX, se popularizando na década de 1960 e 1980. E teve influência principalmente na moda, já que possibilitou o uso de saias e vestidos mais curtos. Ainda hoje, é muito comum ver mulheres usando meia calça por baixo dessas peças, principalmente em ambientes de trabalho e lugares mais formais.
No entanto, a popularidade da meia calça levou à criação de outros modelos, mais despojados. Como, por exemplo, as meias calças do tipo arrastão, com seu formato quadriculado e vazado, muito usado pelas celebridades do mundo do rock.
Lingeries e a diversidade de corpos
Por fim, apesar de toda a história da lingerie, nós sabemos que a indústria da moda está em constante transformação. Por isso, atualmente, mais do que em qualquer período, as roupas, em especial as peças íntimas, têm se adaptado para se adequar a todo tipo de corpo.
Aliás, o intuito de muitas das fabricantes hoje em dia é buscar o conforto e a qualidade, com peças de diversos tamanhos que caminham lado a lado com a beleza. Dessa forma, algumas dessas marcas buscam conscientizar as mulheres da sua beleza e do seu poder.
Portanto, mulher, lembre-se sempre de que você deve se amar. Amar o seu corpo, pois ele tem poder, você tem poder. Independente da sua roupa íntima, você deve se sentir confortável em ser quem você é, porque você é perfeita do seu jeito.
Enfim, o que achou dessa matéria? Aliás aproveite para conferir também quem inventou o salto alto.
Fontes: Blog da Lingerie BBC Climages
Imagem destacada: Juliana Lopes
Imagens: Juliana Lopes A Moda do Século Twitter Geek Chic Garota das Galáxias Yahoo Carl Weston Roberta Jugmann História da Moda Zanotti Playboy Pinterest Gama Cidadão